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NOTÍCIAS |  | | 01-04-2003
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Crianças continuam com imagens desiguais do homem e da mulher
As crianças portuguesas mantêm imagens «profundamente desiguais« do pai e da mãe, devido em parte ao facto de, em casa, as tarefas domésticas continuarem a ser responsabilidade feminina, mesmo que ambos se encontrem no mercado de trabalho.
«As crianças não são estúpidas. Mesmo que a mulher trabalhe [fora de casa], elas vêem que, no seio da família, os homens não exercem as tarefas domésticas em termos de igualdade«, sublinhou hoje, em declarações à agência Lusa, Teresa Cláudia Tavares, docente da Escola Superior de Educação (ESE) do Instituto Politécnico de Santarém.
A investigadora apresenta sexta-feira na Lousã (Coimbra) uma comunicação sobre «As Questões do Género no Pré-escolar e no Ensino Básico«, no âmbito de um encontro que decorre nesta vila, para assinalar o Dia Mundial da Mulher.
Esta conclusão da docente da Literatura Infanto-Juvenil é extraída de uma investigação realizada em jardins-de-infância da área de Santarém, no âmbito do projecto «Co-educação«, da Comissão para a Igualdade e Direitos da Mulher (CMID).
«As informações [do estudo] são muito localizadas, obtidas a partir de análises dos desenhos e falas que as crianças atribuem às figuras paterna e materna, nomeadamente no Dia do Pai e no Dia da Mãe«, esclareceu Teresa Cláudia Tavares.
Apesar de as realidades familiares actualmente serem muito diferentes, as crianças continuam a dizer frases como «A minha mãe serve para lavar a louça, o meu pai serve para brigar« ou «Os homens servem para ganhar dinheiro, as mulheres para dar beijinhos aos filhos«.
Conclui-se que os papéis que as crianças atribuem aos homens e às mulheres continuam a ser «profundamente desiguais«, com a figura masculina numa posição de superioridade e a feminina numa posição de inferioridade.
Além da família, influências como a exercida pelo mercado de brinquedos (os meninos brincam com máquinas de guerra, as meninas com bonecas) ou no ensino, em que sobre as meninas é exercido um maior controlo do que sobre os rapazes (quando são mais irrequietas ou se sujam mais, por exemplo), são outros factores apontados pela docente.
«As meninas são votadas à invisibilidade, têm dificuldade em defender a sua especificidade, sentem-se um pouco como rapazes falhados«, sustentou a professora da ESE de Santarém à Lusa.
Outra das oradoras no encontro, Teresa Pinto, da CMID, argumenta que as próprias escolas não conseguem desconstruir determinados estereótipos, com os manuais a reproduzirem figuras estereotipadas do homem e da mulher que as crianças absorvem como modelos.
«Enquanto os homens têm uma diversidade de profissões, as mulheres quase não aparecem nos manuais escolares«, justificou a docente, reportando-se a um estudo feito pela Comissão sobre alguns livros, que concluiu também que, no quotidiano, as figuras femininas quase não surgem associadas a actividades lúdicas e de lazer.
Para a mudança deste quadro mental, Teresa Pinto defende a importância de os educadores e professores trabalharem com as crianças no sentido de desconstruírem as imagens tradicionais que, muitas vezes, determinam escolhas curriculares por parte das raparigas que, mais tarde, vão acentuar as dificuldades em obter emprego.
Investigadores e docentes do ensino superior intervêm no encontro sobre «A Mulher e o Ensino«, que decorre no auditório da Biblioteca Municipal da Lousã, organizado pela Arte-Via Cooperativa Artística e Editorial e pelo Centro de Formação de Associação de Escolas da Lousã e Miranda do Corvo.
A iniciativa, integrada no Dia Mundial da Mulher - que se comemora sábado - conta com o apoio da Biblioteca e da Câmara Municipal da Lousã.
(5 Mar 03 / 13:20) |
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